Otto Leopoldo Winck
Poema de Otto Leopoldo Winck
Rio
da vida
Dentro
de mim corre um rio
sem início e sem desfecho.
Se ele é largo ou se é um fio,
não o sei, pois desconheço.
sem início e sem desfecho.
Se ele é largo ou se é um fio,
não o sei, pois desconheço.
Dentro
de mim corre um rio.
Se ele aí sempre correu
ou se jamais existiu,
nunca o percebera eu.
Se ele aí sempre correu
ou se jamais existiu,
nunca o percebera eu.
Só
sei que dentro de mim
serpeia este rio submerso,
não contido por confim,
que vem à tona em meu verso.
serpeia este rio submerso,
não contido por confim,
que vem à tona em meu verso.
Rio
de luas, rio de lendas,
de amazonas e sereias,
são oníricas as prendas
que me trazem suas cheias.
de amazonas e sereias,
são oníricas as prendas
que me trazem suas cheias.
Meu
passado e seus presentes,
meus tormentos (na tormenta),
se me assomam nas correntes
que o seu dorso me apresenta.
meus tormentos (na tormenta),
se me assomam nas correntes
que o seu dorso me apresenta.
Dorso
negro onde a lua
fincou esporas de prata
e qual linda índia nua
cavalga no seio da mata.
fincou esporas de prata
e qual linda índia nua
cavalga no seio da mata.
Rio
de botos, jacarés,
medos, mortos, anacondas,
que inunda os igarapés
engolindo-os com suas ondas.
medos, mortos, anacondas,
que inunda os igarapés
engolindo-os com suas ondas.
Rio
de iaras e de loucos,
de piranhas e de antas,
que me sorve, mas aos poucos,
por suas múltiplas gargantas.
de piranhas e de antas,
que me sorve, mas aos poucos,
por suas múltiplas gargantas.
Rio
de grotas, pororocas,
banzos, sanhas, fêmeas prenhas,
que entre coxas, xotas, bocas
me ensina em cifras e em senhas.
banzos, sanhas, fêmeas prenhas,
que entre coxas, xotas, bocas
me ensina em cifras e em senhas.
Quisera
eu estancá-lo,
Mesmo secá-lo. Não posso.
Pois ao tentar aplacá-lo,
seu leito torna-se um fosso
Mesmo secá-lo. Não posso.
Pois ao tentar aplacá-lo,
seu leito torna-se um fosso
no
meio do qual me afundo,
em pânico me revolvo,
arrastado para o fundo
onde aos poucos me dissolvo.
em pânico me revolvo,
arrastado para o fundo
onde aos poucos me dissolvo.
Eu
agora sou o rio:
baldo rio (longe o oceano)
e que tem por desafio
um jorrar não mais humano.
baldo rio (longe o oceano)
e que tem por desafio
um jorrar não mais humano.
Rio
escuro, turvo rio,
de onde vens, para onde vais?
Quando choro, quando rio,
para onde vão risos e ais?
de onde vens, para onde vais?
Quando choro, quando rio,
para onde vão risos e ais?
Rio
sem fonte, rio sem foz,
sem margens ou horizontes,
quando cessa, onde a voz,
se sobre o vão não há pontes?
sem margens ou horizontes,
quando cessa, onde a voz,
se sobre o vão não há pontes?
Rio
oculto, onde me levas?
Se eu sou tu, se tu sou eu,
por que não sei (em tuas trevas
foi que outrora aconteceu
Se eu sou tu, se tu sou eu,
por que não sei (em tuas trevas
foi que outrora aconteceu
meu
tortuoso despertar),
no âmago desse breu
do teu curso milenar,
qual meu nome, quem sou eu?
no âmago desse breu
do teu curso milenar,
qual meu nome, quem sou eu?
É
poeta e ficcionista, autor do romance Jaboc, lançado em 2006,
pela Garamond. Vive em Curitiba (PR).
Maravilhoso!
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