quinta-feira, 25 de abril de 2013

I

Me dê uma xícara de café, e fique apenas por um momento. Eu gostaria de contar uma história, mas as palavras custam a sair porque estão presas em minha cabeça, passando como um filme sem fim. Tudo está confuso agora, e eu não sei mais nem quem eu sou. Não sei mais o que pensar, talvez porque eu já tenha pensado em tudo. Não sei mais o que sonhar, pois já sonhei com tudo. Não sei mais no que acreditar, já me decepcionei com tudo também. Nada mais me encanta porque de todas as coisas que partiram, a que me sobrou foi o medo. Talvez eu não devesse mais me encantar. Talvez. Eu gostaria de poder escolher ficar assim para sempre, mas o ruim é saber que isso vai passar, e ter a certeza de que vou voltar a ter esperança e sofrer novamente. E eu não quero me sentir assim nunca mais. Eu estou desencantada achando que é o fim, mas sei que vou me encantar e continuar a buscar a continuação que talvez não exista. Saber uma coisa, sentir outra, fazer outra. Dentro dessa confusão eu não consigo descobrir se o pior é perder alguém que amamos, ou perder a nós mesmos. Eu não sei mais o caminho. E talvez, eu nem queira mais um caminho. O filme parece sem fim, mas na verdade ele acabou. E é a parte triste. As coisas se acabam, mas continuam vivas dentro de nós; o filme acabou mas continua passando. Não é o certo e nem o errado. Não é legível, muito menos confuso. Mas é tão real que posso tocar, posso sentir todas as cenas, o aroma, a textura de cada uma. Eu me contradigo, mas talvez eu esteja certa, mesmo sabendo que isso é errado. Isso é paranoia, mas eu não dou a mínima. Eu não estou consciente, mas também não estou louca. E se estou, isso já não importa. Eu não estou morta, mas deixei de sentir minha vida. Há uma estante, e nela estão coisas de uma alma perdida que eu tentei salvar e acabei por perder a minha. Eu poderia cantar agora: Eu odeio todos eles, odeio todos eles e me odeio por odiá-los. Então vou beber mais um pouco. Eu amo todos eles, beberei ainda mais e odiarei a todos mais do que antes. O frio não me deixa escrever, mas eu continuo. A minha memória não lembra, mas meu astral me faz sentir. As lágrimas não me deixam enxergar, mas meu espírito vê. Meu coração chora, mas minha mente sonha. Então eu acordo. Não me permito sonhar. Não mais. Evito dormir, evito silêncio, evito lembranças, mas o filme continua. Eu contra eu mesma. Eu perco. Eu ganho. Eu quero um empate. E as horas passam. O frio contra meu corpo, minha memória contra meu astral, minha tristeza contra minha alma, minha mente contra meu coração. Eu contra todos eles. Isso é insanidade, mas eu gosto. E agora, tudo vai parar pelas minhas mãos. Parei, porque estou cansada. Porque eu não busco mais nada. Mas o meu destino continua. Eu posso desistir, mas ele não desiste. Eu posso enfraquecer e cair no caminho, e então ele me trará a saída. Eu posso parar no tempo, mas o tempo não para. E assim talvez as coisas aconteçam, as primaveras cheguem, os amores se encontrem e cada coisa tome seu devido lugar na terra. E assim talvez, eu encontre a chave. Talvez esse seja o segredo. Quando não buscamos nada, encontramos tudo.

Sula P. Almeida

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